sexta-feira, 3 de março de 2017

Pensar, refletir, planejar: a transformação das ações cotidianas

Grande parte da infância das crianças pequenas nos atuais tempos é vivida em instituições de Educação Infantil. Este marco histórico data muito recente no Brasil, uma vez que paulatinamente às crianças pequenininhas deu-se o direito à vaga em função da etapa da Educação infantil fazer parte da Educação Básica (LDB/96). Vivenciar coletivamente as primeiras experiências junto a outras crianças têm sido um diferencial para as crianças pequenas, dantes educadas exclusivamente pelas famílias.

Famílias e Centros de Educação Infantil compartilham a educação das crianças e é nesta parceria que se percebe um entrelaçamento de valores, práticas e crenças que envolvem adultos e crianças no cotidiano.

As crianças pequenas, peculiarmente, as das turmas de Maternal, que beiram a chegada do terceiro aniversário durante o ano letivo, requerem o atendimento de necessidades fundamentais de sobrevivência, o que se denomina como alimentação, descanso, higiene.

A construção da autonomia e do controle da vontade pelas crianças nesse momento de suas vidas é um dos pilares a sustentar o enfrentamento, a vivência e o investimento desse cotidiano. A caracterização das vivências de atividades no âmbito coletivo, como as refeições, o uso do banheiro e a hora do descanso está atrelada aos costumes, aos valores e às concepções dos adultos que organizam esse cotidiano.

Um rápido olhar sobre as atividades desse cotidiano pode levar a pensar que sua organização é simples e não necessita de reflexão constante. Por outro lado, a reflexão apurada e complexa revela que no decorrer da passagem do tempo, crianças e adultos vão se modificando pelas interações e hora parece haver avanços e hora parece haver pequenos retrocessos no encaminhamento das ações. A constante retomada da orientação às crianças, seja no banheiro, seja no refeitório, seja na sala do descanso objetiva tornar mais corriqueiro e simplificado o comportamento da criança diante do que, no início do ano, se mostra bastante conturbado. Ao mesmo tempo que a criança avança em sua autonomia (por exemplo, retira sua roupa e senta para fazer xixi, lava as mãos e seca sem ajuda, escova os dentes, deita no colchão e começa a dormir, alimenta-se sozinha e é capaz de informar sua saciedade ou não, etc), ela também percebe novas possibilidades de fazer brincadeiras durante a vivência desses momentos, uma vez que ela não encara a sequência das atividades que “tem” de ser cumpridas da mesma forma que o adulto. Por isso, um enorme investimento de energia é solicitado ao adulto nesses momentos, o que acarreta a consciência por parte deste de que seu papel na Educação Infantil convoca sua grande disponibilidade em orientar a criança nos primeiros anos de vida nesses aspectos da sua humana condição.


A cultura, na qual todos estamos inseridos, dá-nos a maior parte das pistas do que desejamos para as crianças e nesse sentido trabalhamos o currículo da Educação Infantil, privilegiando e valorizando o trabalho com a criança pois dele depende tudo o que se apresentará a ela depois.


Sendo assim, não se trata de dispensar o planejamento desses momentos. Ao contrário, pelo planejamento, tornamos a “rotina” pedagógica, tanto quanto queremos tornar os demais momentos, tradicionalmente já considerados dessa natureza. 

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