sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Se eu fosse prefeito...

Em novembro de 2013 participei de um encontro e muito se falou nas infâncias das crianças que frequentam instituições de Educação Infantil. Em meio a tudo que foi dito, uma frase, em especial, fez-me viajar. A principal palestrante do encontro disse: "Se eu fosse prefeito, iria ..."

Pensei que um prefeito não desceria tanto à terra nas questões que pedem revisão quanto à qualidade dos espaços nas instituições que atendem as crianças de zero a cinco anos. Por outro lado, comecei a exercitar a frase ouvida como Chefe do poder Executivo, munido de recursos e conhecimento sobre a importância dos ambientes nas instituições de educação infantil e poderia, a exemplo das crianças, brincar de faz-de-conta, assumindo um personagem, que, na realidade, não tenho condições de protagonizar.

Tenho o apoio de Léa Tiriba, consultora do Ministério da Educação, num dos textos de suporte para implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, de título "Crianças da natureza", que nos mostra a importância das crianças terem oportunidade de contato com a natureza e outras providências e que, se eu fosse o prefeito, gostaria de saber que as crianças de meu município desfrutam. Já sabemos que a implantação das Diretrizes Curriculares representa um desafio para os municípios. Tiriba resume:

Em 1988, quando foi aprovada a atual Constituição Brasileira, a educação
infantil passou a ser um direito das crianças. Mas, se elas chegam às IEI aos 4
meses e saem aos 5 anos; se, até os dois anos frequentam raramente o pátio, e, a
partir desta idade, adquirem o direito de permanecer por apenas uma ou duas
horas ao ar livre, brincando sobre cimento, brita ou grama sintética; se as janelas
da sala onde permanecem o restante do tempo não permitem a visão do mundo
exterior; se assim os dias se sucedem, essas crianças não conhecem a liberdade...
o que foi conquistado como direito, em realidade se constitui como prisão.

Como profissional da educação infantil, por viver, conviver e sentir essa realidade, vou brincar de ser prefeito por alguns minutos.

Se eu fosse prefeito...

Retiraria, ainda neste mês de janeiro, antes que as crianças todas chegassem aos Centros de Educação Infantil, toda a brita dos parques e das áreas onde as crianças costumam brincar. Mandaria colocar terra e em algumas áreas mandaria cobrir com uma fina camada de areia. As crianças amam mexer na terra e na areia. Fariam muitas brincadeiras, inventariam mil coisas com baldes, pás e outros objetos que se poderiam dispor a elas.

Se eu fosse prefeito...

Mandaria arborizar em ritmo de urgência todos os parques e pátios dos Centros de Educação Infantil e cobriria grandes extensões com grama, pois as crianças precisam das árvores para viver e criar situações em contato com a natureza.

Se eu fosse prefeito...

Equiparia com brinquedos todos os parques dos Centros de Educação Infantil e faria reformas nos que estão sem o colorido das tintas fortes, pois as crianças devem se utilizar do parque mais do que qualquer outro espaço pelas oportunidades que oferece em viver e produzir culturas infantis.

Se eu fosse prefeito...

Mandaria construir casinhas de brinquedo em todos os Centros de Educação Infantil para que recebessem móveis de brinquedo feitos com material reciclado a partir das mãos de crianças e professoras.

Se eu fosse prefeito...

Estabeleceria recursos financeiros suficientes para que as gestoras e equipes dos Centros de Educação Infantil organizassem áreas de circulação comum com móveis, bancos coloridos para adultos e crianças, prateleiras com livros e brinquedos, onde pais e mães pudessem se demorar na entrada ou na saída com seus filhos e filhas a brincar.

Se eu fosse prefeito...

Interferiria nos projetos arquitetônicos dos Centros de Educação Infantil descendo janelas à altura das crianças para não esconder delas a visualização do mundo lá fora ...

Se eu fosse prefeito...

Instituiria, em negociação com as empresas locais e em respeito às crianças e suas famílias, a primeira semana de inserção das crianças nos Centros com a maior flexibilidade de horário de trabalho possível. Assim, pais, mães e familiares poderiam se demorar pela manhã ou pela tarde com seus filhos e filhas, a conversar e a participar de reuniões e atividades organizados pelos Centros. Isto é pensar no futuro das crianças: fazer hoje!

Se eu fosse prefeito...

Recomendaria e apoiaria mais horas de formação em serviço para os profissionais dos Centros de Educação Infantil, para que, sobretudo, houvesse oportunidade de, regularmente, planejar e avaliar ações coletivas para a educação dos adultos e das crianças.

Se eu fosse prefeito e se não houvesse recursos para as providências mais urgentes e respeitosas para com as crianças, eu perderia a paz e o sono. 

A criança brinca e brinca de faz de conta. Às vezes para lidar com conflitos e situações difíceis; outras vezes pelo prazer que dá sonhar. Eu também!

* Ao conhecer a vida e a obra de Portinari, autor dos quadros que estão distribuídos neste texto. encantei-me porque tudo que ele criou, buscou nas vivências e nas experiências de sua infância.