domingo, 5 de julho de 2015

NADA DE NOVO

A vida de educadora me causa muito prazer e também muita angústia.
Observo-me no meio das crianças e vejo uma professora atormentada pelas condições da atual Educação Infantil brasileira. 
Sou responsável por tudo o que acontece a dezesseis crianças. Tanto as conquistas quanto as pendências. 
Esta semana foi entrega das avaliações do semestre de meu grupo. 
Grupo que efetivamente faz um mês que está comigo. 
Por isso acompanhei a professora que estava até então com ele. 
À medida que as conquistas das crianças foram sendo abordadas pela professora e respaldadas por pais e mães, fui percebendo como é difícil ter presente como estava e como está a criança, uma vez que o escrito nem sempre retrata os detalhes.
Fiquei imaginando se estou prestando atenção nas minúcias: das brincadeiras, na expressão das vontades e contrariedades, na necessidade de contato visual e físico, na descoberta do mundo, nas experiências novas, nas quedas e empurrões, nos choros e sorrisos, na relação entre os pares, enfim a tudo aquilo que demandam dezesseis crianças, das quais metade fez dois anos em junho e outra metade fará agora em julho.
Senti-me um tanto quanto impotente e incapaz de registrar tantas informações para seguir fazendo valer a educação que almejo. 
Senti-me amedrontada ao pensar que estou sendo inconsistente nas orientações que faço às crianças. Acho que são muitas crianças ao mesmo tempo clamando minha intervenção. 
Trata-se da consciência da responsabilidade.
A Teoria Histórico-Cultural ajuda-nos a pensar sobre essa capacidade que desenvolvemos durante a nossa vida de tornarmo-nos conscientes.
Conscientes sempre em relação a alguma coisa. 
A consciência humana é uma característica útil para qualquer pessoa, porém, aos educadores serve sobremaneira. 
E é por essa consciência que reclamo hoje aqui: estou me sentindo incapaz de desenvolver uma prática pedagógica a contento por estar responsável por dezesseis crianças ao mesmo tempo, porque uma lei foi mal elaborada e sacrifica grandes e pequenos. 
Poderia me calar e achar o máximo dos feitos dar conta da educação de todas elas. E vamos dando, para todos os efeitos. Mas a custa de quê?
Várias implicações depreendem-se da situação: exaustão do professor, relação pouco individualizada em consonância com as necessidades da criança tão pequena, dificuldade de observar e aludir aos desafios que a idade exige, qualidade prejudicada no atendimento aos desejos e necessidades da criança,  
Alguém vai dizer: mas você não está só. Tem uma parceria com outra profissional. Sim, geralmente isso aliviaria a situação. Porém, o fato de as dezesseis crianças dividirem o mesmo espaço, acaba por vincular uma educadora a todas na maioria das horas do dia. As pessoas que vivem essa realidade concordarão com essa explicação.  
A professora Suely Amaral Mello, em sua palestra (Indaial, abril/2015), defende que uma criança necessita de uma referência forte no adulto, de onde emana a confiança e a segurança para poder conhecer o mundo e explorá-lo com tranquilidade e que isso ocorre se houver nessa faixa etária um número razoável de crianças por educador. 
Estou insatisfeita com meu desempenho, mas talvez esse ônus não seja apenas meu.