domingo, 9 de fevereiro de 2014

Meu segundo encontro com Maria Carmen Barbosa

A tese de doutorado de Maria Carmen Barbosa  e os textos que escreveu como consultora do MEC ganham novo sentido quando ouvimos suas palavras ao vivo. Esta oportunidade surgiu no início do mês de fevereiro, numa palestra, sob o título "O significado da escola de educação infantil nos contextos contemporâneos".

A maioria da geração de professoras presentes na palestra, disse Maria Carmen Barbosa, educou-se em famílias extensas, onde as vivências e experiências foram muito diversificadas. Avós, tios, primos, irmãos, pais... todos envolviam-se nos cuidados dos mais novos. As mudanças na vida das mulheres, que procuraram se profissionalizar, obrigou que a sociedade encontrasse uma alternativa para a educação das crianças pequenas. A família se nuclearizou de uma forma que os pais já não podem sozinhos assumir a educação de seus filhos e filhas. Sobretudo, com o encolhimento dos membros que compunham as famílias, a saída de ambos, pai e mãe para a vida profissional, muitas crianças tiveram reduzidas suas oportunidades de viver uma infância rica em experiências e contato com os bens culturalmente produzidos pela humanidade ou quando, por razões econômicas, aprofundam a desigualdade do acesso a alguns bens da cultura, como cinema, literatura, música, teatro, etc.

Maria Carmen Barbosa alertou que as experiências da infância têm uma importância muito grande porque constroem a personalidade da criança e o seu interesse pelo mundo e pelas pessoas. Atualmente, queremos crer que a educação infantil tem esse papel na vida da criança. É uma instituição que hoje justifica sua existência pois um de seus objetivos é oportunizar o contato com a arte, a cultura, a literatura, as linguagens a todas as crianças que a frequentam. A etapa da educação infantil deve ser hoje a melhor opção para a educação das crianças de zero a cinco anos por seu compromisso com as infâncias das crianças.

Nesta palestra também pudemos visualizar algumas fotografias tiradas por Barbosa de crianças em instituições de Educação Infantil e que nos revelam como esses povos consideram as infâncias de suas crianças. Muitas dessas imagens se assemelharam a ambientes que conhecemos em instituições de nosso município mas outras foram um tanto provocadoras no sentido de nos imputarem questionamentos quanto à diversidade de experiências que temos oportunizado.

Entre um universo de teoria e prática na história de atuação de Barbosa na educação brasileira, comoveu-me a sua escolha em trazer-nos a pesquisa sobre as capacidades de um bebê logo após seu nascimento, deitado sobre o corpo da mãe, em buscar o seio, provando-nos que bebês e crianças pequenas são muito mais competentes, potentes e protagonistas que nós adultos, em nossa pedante posição supostamente cristalizada em certezas, supomos.

Uma coisa me parece certa: saíram de lá muitas professoras achando a fala recorrente, denunciando uma irritante falta de humildade e senso de percepção. Estaria a palestrante chovendo no molhado?  Não sei. Mas as palavras de Maria Carmen Barbosa sempre me remetem a pensar: temos tanto a estudar e a refletir. Nada melhor que ver a nós próprios, como um filme que mostra nossa ação junto às crianças. Até que ponto compreendemos o mundo infantil?