sábado, 4 de março de 2017

Histórias: na trilha da humanização

A presença da contação de histórias na Educação Infantil tem um papel imprescindível na construção da imaginação, da inteligência e da personalidade das crianças. Crianças não nascem e crescem como plantas ou são tábulas rasas onde os adultos imprimem seus valores. Crianças são seres de experiência, pouca por sua condição, porém nascem aptas a aprender. E o fato de aprenderem o que lhes é ensinado as difere dos outros animais sobre a terra.

A capacidade de imaginar, de fantasiar, de criar imagens e transformar a realidade que circunda as crianças é fomentada em grande parte pela tradição dos adultos de contar histórias. Ouvir histórias torna as crianças aptas a entender, antes do tempo cronológico, como os adultos estruturam a cultura, que costumes defendem, que valores cultivam e que conhecimentos querem transmitir aos pequenos que veem o mundo pela primeira vez.

Nas turmas de crianças de até três anos ainda é muito indicado que se contem histórias baseadas nas imagens dos livros, bem como a dramatização da história pelo adulto. Elas iniciam também a fase de ouvir histórias sem a presença do suporte pois já conseguem fazer imagens mentais de personagens que lhes interessam, como animais, em sua maioria. 

Contar histórias deve ser um momento que compõe o cotidiano da Educação Infantil. As crianças desenvolvem o gosto pelas histórias ouvindo histórias. O prazer deve ser o convite para a criança sentar e aderir ao momento com seu grupo.

Ouvir histórias oferece à criança uma oportunidade de desenvolver a imaginação que se expande na medida em que a criança é exposta a fazer imagens mentais. Crianças que ouvem histórias podem se tornar mais inteligentes porque começam a argumentar, a nomear, a compreender fatos e situações que, sem as histórias, elas não teriam oportunidade de expressar. Uma das capacidades mais importantes que se desenvolve contando histórias para as crianças desde bem pequenas é o de fazer uso da linguagem oral com mais propriedade. A nomeação de ações também é favorecida pelas histórias que ouvem diariamente. Enfim, todo dia tem de ter história.


Atividades plásticas, práticas e lúdicas: todos os dias


Não faz muito tempo que o direito das crianças a ter uma infância foi reconhecido. Infância esta na qual o ser criança se caracteriza pela expressão de vontades, desejos, necessidades, próprios desta fase da vida.

A infância durante muito tempo foi concebida um período transitório, culturalmente criado, pelo qual a criança deveria passar o mais rapidamente possível uma vez que não valia a pena muito investimento. A infância era concebida como um período de pouca importância porque em nada colaborava para a mudança social. As crianças eram vistas como ingênuas, frágeis, incapazes e dependentes.

A concepção de infância que os adultos têm determina em grande medida o que escolhemos para as crianças. Segundo a Teoria Histórico-Cultural, as crianças deveriam todos os dias participar de atividades lúdicas, práticas e plásticas. Temos privilegiado isso? Pouco, com certeza. Por isso, pensar, planejar, prever ações que resultem em experiências de natureza plástica, prática e lúdica pode nos levar a possibilitar que elas se realizem. O planejamento de ações nesse sentido com e para crianças exige que tenhamos os materiais à mão, o ambiente propício e facilitador e adultos dispostos a se envolver na sua realização.

As crianças encontram grande satisfação e prazer nas brincadeiras que envolvem água, tintas, massas e melecas. Às vezes colocar na boca faz parte do reconhecimento desses materiais por tratar-se de crianças que estão descobrindo o mundo. Toda ação da criança em busca de experimentar a textura, a cor e o sabor são perfeitamente previsíveis e devem fazer parte da vivência da atividade. Por isso, planejar momentos de contato com materiais e oferecê-los ao ar livre, mediante o arranjo do ambiente, dos materiais é muito importante se acreditamos que a infância pode ser vivida intensamente quando adultos possibilitam as experiências. 


sexta-feira, 3 de março de 2017

Pensar, refletir, planejar: a transformação das ações cotidianas

Grande parte da infância das crianças pequenas nos atuais tempos é vivida em instituições de Educação Infantil. Este marco histórico data muito recente no Brasil, uma vez que paulatinamente às crianças pequenininhas deu-se o direito à vaga em função da etapa da Educação infantil fazer parte da Educação Básica (LDB/96). Vivenciar coletivamente as primeiras experiências junto a outras crianças têm sido um diferencial para as crianças pequenas, dantes educadas exclusivamente pelas famílias.

Famílias e Centros de Educação Infantil compartilham a educação das crianças e é nesta parceria que se percebe um entrelaçamento de valores, práticas e crenças que envolvem adultos e crianças no cotidiano.

As crianças pequenas, peculiarmente, as das turmas de Maternal, que beiram a chegada do terceiro aniversário durante o ano letivo, requerem o atendimento de necessidades fundamentais de sobrevivência, o que se denomina como alimentação, descanso, higiene.

A construção da autonomia e do controle da vontade pelas crianças nesse momento de suas vidas é um dos pilares a sustentar o enfrentamento, a vivência e o investimento desse cotidiano. A caracterização das vivências de atividades no âmbito coletivo, como as refeições, o uso do banheiro e a hora do descanso está atrelada aos costumes, aos valores e às concepções dos adultos que organizam esse cotidiano.

Um rápido olhar sobre as atividades desse cotidiano pode levar a pensar que sua organização é simples e não necessita de reflexão constante. Por outro lado, a reflexão apurada e complexa revela que no decorrer da passagem do tempo, crianças e adultos vão se modificando pelas interações e hora parece haver avanços e hora parece haver pequenos retrocessos no encaminhamento das ações. A constante retomada da orientação às crianças, seja no banheiro, seja no refeitório, seja na sala do descanso objetiva tornar mais corriqueiro e simplificado o comportamento da criança diante do que, no início do ano, se mostra bastante conturbado. Ao mesmo tempo que a criança avança em sua autonomia (por exemplo, retira sua roupa e senta para fazer xixi, lava as mãos e seca sem ajuda, escova os dentes, deita no colchão e começa a dormir, alimenta-se sozinha e é capaz de informar sua saciedade ou não, etc), ela também percebe novas possibilidades de fazer brincadeiras durante a vivência desses momentos, uma vez que ela não encara a sequência das atividades que “tem” de ser cumpridas da mesma forma que o adulto. Por isso, um enorme investimento de energia é solicitado ao adulto nesses momentos, o que acarreta a consciência por parte deste de que seu papel na Educação Infantil convoca sua grande disponibilidade em orientar a criança nos primeiros anos de vida nesses aspectos da sua humana condição.


A cultura, na qual todos estamos inseridos, dá-nos a maior parte das pistas do que desejamos para as crianças e nesse sentido trabalhamos o currículo da Educação Infantil, privilegiando e valorizando o trabalho com a criança pois dele depende tudo o que se apresentará a ela depois.


Sendo assim, não se trata de dispensar o planejamento desses momentos. Ao contrário, pelo planejamento, tornamos a “rotina” pedagógica, tanto quanto queremos tornar os demais momentos, tradicionalmente já considerados dessa natureza.