quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Eu desenho, tu desenhas. Mas eles não gostam.

Sou dessa geração tolhida de criatividade porque na infância tudo era quase proibido.
Não tocar, não mexer, não tentar... esperar até poder.
Tudo bem que agora tenha que fazer um enorme exercício como professora de bebês para não repetir e impingir meu próprio destino a eles. Mas... mães do século XXI, achei, já tinham superado essa mentalidade. Que nada!

Uma menina de dois anos risca os braços e é colocada a pensar sobre sua ação. Talvez ela tivesse alguns motivos pelos quais escolheu o próprio corpo como ideal para desenhar.

Mas tudo é uma questão de perspectiva.

Outra criança vem com os braços riscados de caneta e o pai pede desculpas na porta para a professora, como se quisesse dizer "Releve, ele só tem dois anos. É coisa da idade". Quem levaria a sério e pensaria que ele se tornará um arruaceiro?

Então eu vi, na contracapa de uma obra de literatura infantil o que escreveu a ilustradora sobre algo acontecido na infância. Conta ela que um dia foi ao seu quarto e desenhou na parede um sol enorme e grandes montanhas. A mãe, ao ver a "obra", não brigou. E a narradora finaliza: "E eu me tornei ilustradora".

São três momentos distintos com os quais tive contato e que me remetem à uma reflexão que não quer calar:
O que pensamos para as crianças?
O que vemos através de suas tentativas?
Que ordenamento é esse que não respeita a criação da criança?
Por que o mundo tem de ser tão pertencente ao adulto?
Por que logo escolhemos a lógica adultocêntrica e optamos sempre por nossas "ilustrações" como as únicas válidas?
Por que as crianças não devem fazer marcas em seu tempo?
Por que ainda o mundo não é um lugar democrático onde crianças e adultos convivem e se respeitam?