domingo, 14 de julho de 2013

Ser professora de bebês: compartilhando reflexões


Preocupa-me, reiteradamente, como professoras de bebês concebem sua atividade profissional. Por um lado, professoras convictas da importância; por outro, professoras desestimuladas pelo não reconhecimento social desta atividade.

 
 
 
Deparei-me com a Dissertação de Mestrado de Fabiana Duarte (UFSC) que pesquisou as dimensões educativas que constituem a especificidade da ação docente de professoras de bebês. A partir desta produção de pesquisa com professoras de bebês na rede pública municipal de Florianópolis, surge a pergunta:


- O que especifica como docência aquilo que fazem professoras de bebês?

Duarte afirma que há uma especificidade na prática docente com bebês que se diferencia de ser professora de crianças maiores. Para Garanhani (2010) ser professora de bebês denota uma docência marcada por relações e que, por serem vivenciadas com bebês, são mais intensas. Dentre as especificidades de ser docente na educação infantil está a compreensão de que toda criança tem um corpo e uma história e que se relaciona com a movimentação de seu corpo e com sua história pessoal.

Garanhani (2010), citada por Duarte, também afirma que ser professora de educação infantil é estar atenta e respeitar as individualidades, as diferenças e as condições que cada criança apresenta na interação com os outros.

Para esclarecer melhor o que marca a docência com bebês, Tristão (2004) e Garanhani (2010) (citados por Duarte) reforçam três pontos sobre a pedagogia que reconhece e está atenta à criança, sua história e sua individualidade:

-  nega professoras e crianças que não podem se encontrar numa relação individualizada e personalizada;

- nega que as pequenas lições têm mais importância do que as brincadeiras de livres descobertas;

- nega tempos e espaços rígidos que podem enfraquecer a espontaneidade das crianças.

Duarte também cita Schmitt (2008). Segundo esta autora, professoras de bebês relacionam-se com os bebês através de enunciados que ultrapassam a linguagem verbal. A forma como a professora organiza os bebês para uma brincadeira, a maneira como ela disponibiliza objetos a sua altura, o contato que ela estabelece durante a troca de fraldas, por exemplo, diz ou não do quanto acredita nas potencialidades de comunicação e de se relacionar dos pequenos.

Ser professora de bebês significa deixar se afetar pela presença deles e afetá-los igualmente com sua presença. Cada professora vai exprimindo o que sente e como sente a presença de seus bebês e como se responsabiliza por eles.

Defendo aqui a ideia de que as professoras podem comunicar ao mundo a importância de seu trabalho com os bebês quando se debruçam a pensar sobre suas ações cotidianas com eles. Isto se dá através do ato de planejar. Planejar para projetar-se para o futuro. Planejar para observar  as peculiaridades de prever ações e intenções para e com os bebês. Planejar para surpreender-se, para renovar-se, planejar para estar viva para os bebês.

Segundo Tristão (2004), as professoras precisam pensar em seus bebês com alguém que tem um corpo a ser cuidado, mas muito mais bebês como atores sociais competentes. Por isso, a necessidade de organizar uma prática docente comprometida com eles. Ao mesmo tempo que a professora interfere no “ser bebê”, os bebês também interferem reciprocamente na constituição do ser professora de bebês.

Tristão (2004) chama atenção sobre a ação docente para com bebês ser constituída de sutilezas. Uma profissão caracterizada pela sutileza é afeita de ações quase imperceptíveis no dia-a-dia. São atitudes próprias das professoras de bebês, necessárias mas de pouca visibilidade.

Outro fator que marca a prática docente com bebês é a comunicação com eles. À medida que o tempo de convívio aumenta, aumentam as formas de comunicação que se vão estabelecendo e estas ficam mais fluentes. O tempo é um aspecto importante na docência da professora de bebês. As crianças pequenas necessitam viver um ritmo próprio, necessitam de mais tempo, tempos longos, como afirma Barbosa (2010). Por isso, uma rotina que engessa os ritmos não combina com bebês. São as ações de cuidado que orientam o cotidiano e esse aspecto peculiar norteia em grande medida a docência com bebês. O cotidiano, segundo Barbosa (2010) é mais abrangente do que a rotina. O cotidiano é um espaço-tempo fundamental para a vida humana, onde há possibilidade de encontrar o inesperado, o improvável, a inovação, o extraordinário. Assim, as atividades de rotina são um dos elementos que integram o cotidiano. Batista (1998) alerta que a estrutura rígida, uniforme e homogeneizada dificulta a vivência dos direitos das crianças em suas múltiplas dimensões.

Não encerrando o assunto, deixo desta feita um apelo às professoras de bebês: a teoria é nosso suporte, a prática nosso norte. A lucidez uma bandeira e a reflexão uma necessidade cotidiana quando se é professora de bebês.