A
inserção da criança na Educação Infantil, primeira etapa da
Educação Básica, tem sido cada vez mais possível na maior parte
dos municípios brasileiros. Estima-se que haja ainda muitas crianças
a atender e se temos a crença de que a sua frequência é um
diferencial na vida delas, isso complexifica nosso papel como
profissionais dessa instância.
Ao
observá-las bem de perto vemos reações muito ímpares mas todas um
dia já registradas por estudiosos da área. Chorar muito e um
pouquinho; gritar com todos os pulmões ou soluçar; colocar todo o
pedaço de bolo na boca ou jogá-lo longe; comer como se fôssemos
todos velhos conhecidos; bater em quem se aproxima ou aconchegar-se
tristemente; deixar ser consolado ou empurrar quem está perto
demais; morder ou beijar; ficar imóvel ou chorar no portão querendo
saber por que a mãe a deixou aí; sentar e ouvir história, olhando,
sorrindo ou se incomodando que as pernas do amigo estão encostadas
nas suas; chorar porque, afinal, estão quase todos fazendo isso e se
imitar é a lei da aprendizagem, então choramos juntos... Essas são
algumas das reações das crianças recém-chegadas e ainda muitas
semanas após o início dos trabalhos.
O
que oferecer às crianças nos dois primeiros meses, reconhecidamente
o período de familiarização com novos parceiros, adultos e
crianças? Como proceder para abreviar o mal-estar pela separação
dos pais, esses adultos amados e de confiança?
É
preciso lembrar que cada criança percorre um processo individual de
familiarização com o novo ambiente e o que funciona para uns, não
repercute para outros.
Em
minha prática, no primeiro mês em que novas crianças vem compondo
a turma até chegar ao número dezesseis por período, percebi que os
bebês têm necessidades, a maioria determinada pela condição
cronológica. As seis crianças que têm menos de um ano e quatro
meses requerem cuidados na condução pelos espaços do Centro e
demonstram sua insegurança pelo novo ambiente através da expressão
de estarem perdidos quando nos dirigimos ao parque, ao refeitório,
ao solário. Dentre eles, porém, notamos uma criança que está
demonstrando bom manejo da colher e do copo. Os demais precisam ser
alimentados e estão começando a conhecer o uso social do talher, do
prato e do copo.
Das
nove crianças de um ano e quatro meses até os que completaram um
ano e meio, apenas um se alimenta sozinho e bebe do copo com
habilidade. Os demais também precisam ser alimentados, ainda que
estejam iniciando o processo de levar à boca o alimento com a
colher. Esse pequeno grupo está necessitando de mais tempo para se
familiarizar com as atividades que ocorrem em outros espaços pois
manifestam muitos momentos de desconforto, expressando-se pelo choro.
Das cinco crianças que estão acima de um ano e meio, apenas uma
está ainda bastante insegura no ambiente, chorando quando novos
adultos frequentam a sala.
Interessante
registrar que as destrezas motoras não estão explicadas pelo
desenvolvimento físico. Entre uma das crianças que é do mês de
dezembro e outra que nasceu em junho, existe uma enorme diferença. A
primeira, mais jovem, faz e acontece; a outra, de junho, não
consegue erguer a perna para subir no cavalinho. São as experiências
e vivências diversas que essas crianças tiveram.
Dada
essa enunciação da diversidade entre as crianças, uma pequena
amostra apenas para justificar as escolhas que deverão ser feitas,
podemos pensar no que temos oferecido até agora a elas e o que
precisamos oferecer, uma vez que o objetivo da Educação Infantil é
ampliar as experiências das crianças.
Organizar
um espaço, que não seja uma sala desnuda, com objetos como livros,
brinquedos, móveis foi o início. Mas, passado um mês de convívio
com algumas crianças, percebe-se a necessidade de apresentar outros
desafios.
Deixar
as crianças interagir com o que já está exposto é uma atitude
frequente. Mas é preciso levar novos objetos e brinquedos para que
elas possam conhecer e criar brincadeiras. Por isso, será necessário
continuar providenciando pelo menos:
A organização de um espaço para que as crianças se sintam desafiadas a descobrir os efeitos de manipulação.
- O oferecimento de objetos e brinquedos que agucem a curiosidade.
- O acompanhamento das crianças nas brincadeiras, conversando, instigando-as oralmente.
- O respeito pela individualidade das crianças, aconchegando-as nos momentos em que demonstrarem desconforto emocional.
- O desenvolvimento da paixão pelos livros, contando histórias e descrevendo as imagens com detalhes, assim como na ampliação do vocabulário das crianças, investindo nos diálogos constantemente e no canto de músicas infantis.
- A estimulação para a manipulação de texturas, como tintas comestíveis, para ampliar a sensação tátil, uma vez que o corpo é um poço de possibilidades de aprendizagem.
O trabalho do profissional da Educação Infantil não pode ser solitário. Há de se planejar coletivamente as ações. Mas esse é um dos capítulos mais difíceis da história. Não sei porque estamos demorando tanto para levar a sério que juntos conseguiremos avançar mais do que em solidão. Talvez tenhamos que esperar um decreto governamental. Lamentável!
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